quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A peregrinação à Senhora das Neves, em Agosto de 1934


O P.e Leopoldino Mateus, pároco de Balasar entre 1933 e 1956, e por isso pároco da Beata Alexandrina, enviava frequentemente para a imprensa da Póvoa de Varzim uns noticiários da freguesia assinados apenas pelo C de correspondente. E tinha mesmo o cuidado de despistar o leitor para não identificar o autor com o pároco. Veja-se o que ele escreveu sobre uma peregrinação de 1934:

No domingo foram de longada até à pequena ermida de Nossa Senhora das Neves, sita no lugar de Corvos, da vizinha freguesia de Bagunte, as crianças da catequese desta freguesia, acompanhadas do nosso zeloso abade Leopoldino Rodrigues Mateus e das catequistas. No pitoresco local esperavam-nas as crianças das freguesias de Arcos, Bagunte, S. Martinho, S. Simão e S. Cristóvão, com os seus párocos.
Corre entre o povo a tradição de que a imagem da Senhora das Neves apareceu naquele lugar, sendo conduzida à igreja paroquial de Bagunte; mas desapareceu do altar para de novo ser encontrada no mesmo local.
Repetindo-se o acto três vezes e reconhecendo o povo crente ser vontade da Senhora ficar ali, erigiram-lhe uma ermida, dando à imagem a invocação de Nossa Senhora das Neves.
É grande a devoção do povo a esta Senhora, para quem se têm por vezes dirigido procissões de penitência a pedir chuva ou outras graças. A sua festa realiza-se anualmente no dia 5 de Agosto, sendo este ano pregador o nosso digno abade. As crianças e o povo, depois de fazerem a romaria, dando três voltas à capela rezando, postaram-se no caminho em frente, onde rezaram o terço e ouviram o sermão pregado pelo nosso Rev. Abade.
Em seguida, algumas criancinhas das diversas freguesias recitaram poesias e discursos com grande calor e entusiasmo, sendo fartamente aplaudidas pelos circunstantes, que ficaram admirados da habilidade dos oradores.
Finda a acadência (?), os Rev.dos Abades ofereceram às criancinhas, cada um da sua paróquia, uma merenda que decorreu no meio da maior cordialidade e animação. Todo o povo ficou satisfeito com o passeio e não cessava de louvar o zelo dos Rev.dos Párocos, que tanto se esmeram na educação cristã dos seus rebanhos.
Ilustração 2 Retábulo barroco da mesma capela. A parte central da composição é aquela espécie de tríptico com a Senhora das Neves ao centro, ladeada por S. Maria Madalena e S. Marta. Reparar que há semelhança entre as colunas das extremidades e depois entre as colunas que ladeiam a imagem da padroeira. Pelas colunas, sobem pâmpanos, ramos de videira, entre os quais se vêem aves e um menino, o que é comum neste tipo de talha. No frontão que ao cimo remata a composição, é pena ter-se deteriorado irremediavelmente o quadro central, que ajudaria a interpretar o conjunto.

O P.e Leopoldino fala de passeio, mas foi um passeio em que se rezou, se discursou, se comeu, se conviveu. Não esquece também a lenda da criação da ermida.

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