A versão que se segue sobre a origem da devoção à Senhora das Neves, não menciona Bagunte. Mas deve ter em vista a mesma capela. O seu autor, que se devia julgar muito inteligente, considera, por oposição, o povo muito crédulo e ingénuo.
Quando o sol se levanta, a terra estava coberta por um manto branco, como vez nenhuma a aldeia em tal jeito vira! As árvores tinham embranquecido tanto, assim como as casas, os muros, os caminhos, os campos e as latadas, que tudo ficara branco.
Ilustração 3 S. Maria Madalena.
Andava tudo assombrado por aquela tanta brancura! Nunca se vira coisa assim, em Agosto! – Seria castigo do Céu?! Mas aquilo era tão lindo! – Seria presente de Deus?! Mas estava tanto frio! O povo andava pasmado. “É um milagre”, disse o sacristão da capela. A Santinha ali daquele sítio, que o abade teimara em levar na véspera para a igreja, havia voltado – e lá estava de novo, na sua meiga figura de Santinha, alçada no seu trono singelo que os dali ali devotamente lhe tinham levantado.
Fora milagre, fora milagre!
E aquilo, aquela neve tão bonita, tão macia, fora o Senhor que a mandara à aldeia – para que não se magoasse a Santinha nas agruras dos caminhos…
Por isso, a gente logo buscou as pisadas da Santinha. Elas vinham da igreja à capela do Largo.
Era um rosário de covas pequeninas, ajeitadas, a miúdo. Se eram passinhos da Santinha!...
Fora milagre, fora milagre – andava de boca em boca.
A gente do Largo agradecia, já pensava em festas, em romarias à Santinha – que por ser dali para ali voltara. Os outros, os que, com o abade, a queriam para a igreja – esses andavam tristes e tementes daquele castigo divino.
Logo se armou uma fieira de povo que queira rezar à Santinha milagrosa…
Entretanto, cá fora, por mandado de Deus, ia o sol dobrando o manto de arminho que cobria a terra – para que se não magoassem nos caminhos os pés da Santinha do Largo.
E é por isto que, desde aí, lhe chamam a Senhora das Neves.
A Propaganda, 1/10/1942
Ilustração 4 S. Marta.
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